quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Mulher Perfeita



Certa tarde, conta uma antiga história sufi, Nasrudin tomava chá e conversava com um amigo sobre a vida e o amor.


- "Por que você nunca se casou, Nasrudin?", perguntou o amigo.


- "Bem", respondeu, Nasrudin, "para dizer a verdade, passei toda a minha juventude a procurar a mulher perfeita.

No Cairo conheci uma moça linda e inteligente, com olhos que pareciam olivas pretas, mas ela não era muito cortês. Depois, em Bagdá, conheci uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tínhamos muitos interesses em comum. Muitas mulheres passaram pela minha vida, mas em cada uma delas faltava alguma coisa, ou alguma coisa estava demais. Então, um dia, eu a conheci. Era linda, inteligente, generosa e bem-educada. Tínhamos tudo em comum. Na verdade, ela era perfeita".


- "E então", replicou o amigo de Nasrudin, "o que aconteceu? Por que você não se casou com ela?".


Pensativo, Nasrudin sorveu mais um gole de chá e concluiu: "Infelizmente, parece que ela estava à procura do homem perfeito”.Como Nasrudin, quase todos nós queremos encontrar a perfeição fora de nós mesmos.

Criamos em nossa cabeça a imagem ideal da mulher ou do homem que buscamos, projetamos essa imagem em cima do namorado ou namorada, da esposa ou marido, e queremos que ele ou ela corresponda a essa imagem. Ao alimentar essa expectativa utópica, perdemos a capacidade de entender e gostar do ser humano real ao qual nos ligamos. E, muitas vezes, como ele ou ela não podem corresponder a essa expectativa - pelo simples fato de que ela é produto da nossa idealização e dos nossos desejos fantasiosos, acabamos, frustados, por rejeitar a pessoa com quem nos relacionamos, quase sempre sem ter sequer "conhecido" essa pessoa.


Com uma mulher aconteceu algo desse tipo. Passou cinco anos casada, e deixou o marido quando percebeu que ele não se encaixava no modelo de príncipe encantado que ela cultivara desde a infância. Ele se casou novamente com outra mulher. Tempos depois, ao ouvir a nova esposa do seu ex-marido falar da vida feliz que levava com ele, e de todas as boas qualidades que faziam dele um esposo excepcional, a mulher - ainda solitária - ficou perplexa: "Parecia que ela falava de uma pessoa que eu nunca conhecera."


Certo, ela nunca o conhecera de fato, porque cada vez que olhara para ele, era capaz de enxergá-lo, mas não de vê-lo. Ao esperar que ele correspondesse ao modelo idealizado de homem que ela cultivara em sua cabeça, perdera contato com a realidade do homem com quem se casara. Uma realidade que, possivelmente, podia ser até muito melhor do que a do modelo sonhado, porém diferente.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Histórinha Sufi
Era uma vez um rei que estava louco. Como era poderoso, todos se calavam. Mandou fazer sua estátua em ouro e exigiu que todos se curvassem diante dela. Além disso, se algum peregrino passasse pela cidade e não fizesse as honras à estátua, seria decapitado. Naquela mesma semana, passaram por ali um sábio, um devoto de Maomé e uma prostituta. Os três foram levadas à presença do rei para que se curvassem à sua estátua.

_Curve-se, você que se diz sábio!

O sábio pensou que seria melhor fazer a vontade do rei, pois, afinal, nada impediria que ele continuasse pensando e fosse mandando embora dali com rapidez. Tratava-se de um rei louco, sem dúivida. Seu saber dizia que diante de forças maiores não deveria combater. E curvou-se. O rei sorriu e olhou o outro peregrino.

_ Curve-se, você que se diz devoto de Maomé!

O devoto pensou que não faria mal seguir esse louco, pois ele, como devoto e ser único no universo em sua particularidade, não perderia em nada sua alma curvando-se a uma mera estátua. Seu íntimo era sólido. E curvou-se. O rei sorriu e olhou a prostituta.

_Curve-se, você, ínfima mulher do mundo!

_Eu?? Por que o faria? Não devo nada a ninguém, não tenho nada a perder. Sinto muito, mas não me curvo a nenhum pedaço de ouro!

Nesse instante, o rei foi tomado de uma estranha tontura e recuperou a lucidez. A verdade da prostituta retirava dele o véu da loucura. Compreendeu que estivera louco e que os ministros o aplaudiam. Olhou o que fizera e mandou decapitar seus ministros. No novo ministério colocou os três peregrinos.

Moral da história: A verdade (embora as vezes arriscada) sempre cai bem!